O jogador deve lutar contra a tendência de se focar na sua mão e de avaliar a board meramente no sentido em que esta lhe serve. Uma correcta a avaliação da textura da board é o grande passo para jogar não apenas com a nossa mão mas também com a (provável) mão do adversário...A textura poderá definir-se como o conjunto de características das cartas que vão para a mesa (board) e que irão condicionar o jogo de todos os jogadores envolvidos. Mais do que saber exactamente que cartas estão na mesa, há que saber avaliar que tipo de combinação elas formam, de que forma o jogador deve abordar a mão com aquelas características e, igualmente importante, como essas mesmas características poderão influenciar a linha de acção dos restantes jogadores.
No que diz respeito a este aspecto do jogo, o Flop é o momento crítico, aquele que irá condicionar toda a mão de ora em diante. É o momento em que as decisões relativas à textura da board tendem a assumir a sua máxima importância e por essa razão o momento em que mais se irá centrar este artigo.
São 3 ou 4 - conforme o critério dado que duas delas podemos agrupar num mesmo grupo - as características a avaliar na textura do Flop:
- A mais evidente é provavelmente o ranking das cartas, isto é, se a board apresenta cartas altas - e quais - ou cartas médias/baixas.
As cartas mais marcantes neste aspecto são os A's e os K's e que praticamente ficam num universo à parte das restantes. Um jogador minimamente sólido e que tenha falhado o flop ou, alternativamente, tenha atingido não mais do que uma mão mediana (um par médio ou até o bottom pair, por exemplo) estará muito susceptível a abdicar da mão na presença de um A ou um K no Flop. Se a board apresentar um Q ou inferior o jogador estará (progressivamente) mais disponível para contestar a mão. Isto faz sentido, é claro, dados os critérios genéricos de pré-selecção. A probabilidade de algum jogador deter o top-pair é obviamente mais elevada e além de ser mais elevada, tenderá a aguentar-se melhor até ao final da mão. Um top pair 77 e um top pair KK são coisas, obviamente, completamente distintas.
Por oposição, uma board com cartas médias e baixas tem uma probabilidade mais reduzida de algum jogador ter emparelhado no Flop ao que se soma o facto desse par ter bastante menos firmeza: um jogador com um par médio ou baixo está muito mais sujeito a ser batido no pós-flop e a generalidade dos jogadores tenderá a considerar que tem como outs as overcards que eventualmente tem na mão. Por hipótese o flop vem 832 rainbow e alguém com QT vai considerar que tem 6 outs, tendendo em grande parte dos casos a lutar pela mão. O mesmo jogador iria provavelmente foldar num flop tipo A32...
- Outra característica chave é verificar se a board vem emparelhada e se sim, qual o ranking do par.
Este aspecto tem duas vertentes que o tornam importante: o facto da board vir emparelhada e especialmente contra poucos adversários aumenta consideravelmente a probabilidade destes terem falhado o flop; por outro lado, os adversários estarão bastante menos susceptíveis a contestar uma mão que vem com um par na board dado que as cartas que procuram poderão de nada lhes valer caso algum outro jogador detenha já o trio.
Qual o par em questão é igualmente determinante. Mais uma vez, uma board emparelhada do tipo KKT e uma outra tipo 335 são boards substancialmente diferentes. Na verdade, se por hipotese estivermos envolvido numa mão contra dois ou três jogadores tight ou razoavelmente tight podemos assumir como dado adquirido que numa board 335 ninguém acertou nada com a board ao passo que numa outra tipo KKT praticamente podemos dar por adquirido que entre os 3 alguém tem algo, ou pelo menos, um projecto bem forte. Entre três jogadores tight ou relativamente tight é difícil imaginar que ninguém tenha K, ninguém tenha T e não tendo nenhuma daquelas cartas também ninguém tenha QJ.
No caso de pares médios e baixos na board o perigo poderá vir essencialmente de jogadores loose e superloose ou das blinds se estas se envolveram na jogada pelo que neste tipo de board são os jogadores a que deveremos prestar maior atenção e crédito.
Outra peculiaridade das paired boards (e sempre tendo em conta o já o referido) são os casos em que o jogador detém um par de mão e ainda mais especialmente quando o jogador foi o agressor do pré-flop. São mãos que tenderão a ser bastante menos contestadas e que com elevada frequência podem ser arrumadas prontamente no Flop. Imagine-se o caso do jogador deter 99 e a board vir 885.
Estas são mãos que por norma merecem um raise no Flop caso algum jogador sem posição abra com bet, mesmo que existam terceiros jogadores por falar. Este raise tenderá a afastar jogadores com draws frágeis ou overcards. Por outro lado, caso alguém faça um cold call podemos coloca-lo num possível slowplay (alternativas são draws fortes ou outros pocketpairs, aqui excepção feita às super calling stations).
Quanto ao heads-up, não é muito provável que o adversário detenha o trio (num heads-up é bem mais plausível que este opte por um slowplay) sendo bem mais credível que esteja simplesmente a tentar roubar o pote ou então detenha o segundo par feito com a board. Pode ainda tratar-se de um semi-bluff com high cards. O raise no Flop continua a ser uma boa opção bem como a insistência no Turn, onde perante tal agressividade o adversário estará bem susceptível a desistir.
- As restantes podem agrupar-se genericamente em boards com fortes possibilidades de projectos e consiste em avaliar os naipes constantes na board e a conectividade das cartas ali presentes.
As boards favoráveis a projectos de cor ou sequência tenderão obviamente a ser bastante mais contestadas e aqui a palavra chave para um jogador com mão feita é agressividade. Em FL praticamente não há forma de proteger a nossa mão perante os projectos nem essa é sequer a abordagem correcta nesta vertente do jogo, já que na generalidade dos casos nada fará o adversário desistir do projecto. E neste contexto, a atitude correcta é fazê-lo pagar sempre e pagar tanto quanto possível para que este coloque sempre (o máximo de) dinheiro no pote, quer nas vezes em que vai completar o projecto, quer no numero maior de vezes em que vai falhar.
Os projectos de cor são bastante evidentes ao passo que alguns projectos de sequência são bastante subtis tendendo a apanhar desprevenidos os jogadores no final da mão quando por vezes contavam ter esta ganha enquanto que as boards com projectos de cor tendem levar os jogadores a jogar mais defensivamente. Jogadores loose merecem especial cuidado em boards tipo QJ9 7 6. Existe aqui um leque considerável de mãos que completam sequência desde KT, passando por T8 e a terminar em 85.
Ainda mais subtil é a probabilidade mais elevada de alguém conseguir dois pares neste tipo de board - e mais uma vez com especial atenção para os jogadores loose - dado que os jogadores tendem a jogar mais as connected cards em geral (jogadores mais loose inclusivamente com gaps de uma ou duas cartas). Nesta board um AQ é uma mão que não merece ser jogada com grande agressividade na fase final dado o enorme leque de mãos plausíveis entre sequências como as já citadas a dois pares realizados com QJ, 76 ou até mesmo embora já menos provável com J9 e 97.
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