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Wednesday, December 5, 2007

Bankroll versus Multitabling

Uma velha questão que suscita sempre algumas dúvidas e confusões. Que implicações tem o multitabling na gestão do bankroll?

Trata-se de uma dúvida (natural) que surge com bastante frequência pois este aspecto não é tão intuitivo quanto possa parecer à primeira vista:

Na realidade, a Bankroll necessária é basicamente a mesma quer se jogue numa só mesa, quer se jogue em meia dúzia de mesas.

Alguns estarão nesta altura a pensar, então mas não é necessário mais?... E outros questionam-se se não será necessário menos dado que o aumento do número de mesas deveria tender a reduzir a variância.

A quantidade de mesas em si não tem qualquer implicação na variância. O que muda é a percepção da variância e a forma como ela «se espalha» no tempo. Mas matemática e tecnicamente a variância é a mesma.

A título de exemplo: a probabilidade de falhar 4 all-ins com AA na mesma mesa em 4 mãos seguidas (vamos supor que se obteve 4 AA's consecutivos) é exactamente a mesma de falhar 4 AA's em 4 mesas em simultaneo (um AA em cada mesa). E, acrescente-se, a probabilidade de se obter 4 AA's consecutivos numa mesa é também exactamente a mesma de se obter 4 AA's em simultâneo
(um em cada mesa).

Portanto, a variância é a mesma e as necessidades de banca são as mesmas.


O que muda:

> A velocidade a que jogamos as mãos e logo, com o tempo, a percepção de variância (ou o tempo necessário para as coisas normalizarem). Basicamente é como por um relogio a andar mais depressa, acelerar tudo.


Ao jogar-se várias mesas em simultâneo, as swings de umas mesas não tenderão a anular as swings noutras mesas? Não. As probabilidades de atenuar ou de agravar são exactamente as mesmas (dependem apenas da probabilidade de cada evento em si) quer essas mãos tenham sido jogadas em mesas separadas quer tenham sido jogadas na mesma mesa, umas após as outras. No fundo, as cartas não sabem onde e quando estão a ser jogadas e se o jogador está ou não em mais mesas. Portanto, as probabilidades de cada evento mantêm-se inalteradas.

Um segundo AA numa mesa B) não vai tender a atenuar mais uma eventual perda com o primeiro AA na mesa A) do que um segundo AA na mesma mesa A).


Grosso modo: é preciso mais banca por se jogar em mais mesas? Não, é preciso sensivelmente a mesma, desde que se tenha a suficiente/aconselhável para o stake em causa.



Há que considerar que ao jogar-se em diversas mesas em simultâneo, o jogo praticado tenderá a não ser exactamente o mesmo o que tem também alguma implicação ao nível da variância mas a outro plano e por norma não muito significativo. Também de notar que se jogarem um número de mesas que só por si exige que coloquem praticamente todo o bankroll em jogo (o que é altamente improvável) também necessitarão de um pouco mais. Mas são meros pormenores face à questão central.


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Tuesday, October 16, 2007

PokerEV... ou nem tanto.

Há tempos surgiu um programa novo no panorama do Poker - o PokerEV - que foi divulgado no forum 2+2. Aqui fica um insight do programa e algumas cautelas...

O conceito do programa e a recepção foram calorosas: um programa para avaliar a qualidade das decisões e o peso da sorte seria o Santo Graal do estudioso do jogo dedicado. O problema é que o programa não faz isso. Ou por outra, fá-lo só em certa medida e as conclusões podem ser completamente opostas às desejáveis!

Mas vamos por partes... Primeiro, os Sklansky Bucks.

O gráfico é o resultado de 8.141 mãos realizadas na
rede prima este mês, visualizadas no PokerEV.


Uma das peças fundamentais do programa é o recurso ao conceito dos Sklansky Bucks: os Sklansky Bucks derivam do Teorema Fundamental do Poker (TFP, já abordado aqui no meu blog no passado) e consistem em "dolars" virtuais ou teóricos, como preferirem. Basicamente, é o que é suposto ganharem com a vossa decisão dado o cenário xis, independentemente do resultado real da mão. Por exemplo, se têm um set de AAA e o vosso adversário tem um inside straight draw no turn, vocês vão all-in e ele acompanha e «saca» a sequência, vocês perderam a mão (perderam dinheiro real) mas ganharam Sklansky Bucks. No longo-prazo, se se repetir este cenário, vocês ganharão sem dúvida uma pipa ao adversário. Naquele caso concreto tiveram azar e perderam...

De sublinhar que os Sklansky Bucks são calculados com base num cenário concreto e conhecendo a mão do adversário. Estes dois aspectos merecem alguma reflexão para evitar conclusões precipitadas.

Ao dizer que tiveram azar num cenário em concreto, tal não significa que estejam com azar num sentido mais abrangente. Podem muito simplesmente estar a obter cenários favoráveis mais vezes do que esperado e na verdade, estão a ter sorte. Com uma distribuição justa perderiam afinal mais vezes e mais dinheiro. Tentando exemplificar, jogaram 4 vezes um pocket 22 e em 3 dessas 4 vezes floparam um "set" (222). Desses 3 sets perderam dois deles...

Resumindo e concluindo, tiveram um tremendo azar em perder dois dos três sets quando eram grandes favoritos (suponhamos), mas na realidade e no global o que tiveram foi sorte pois encontraram-se em cenários favoráveis mais vezes do que era suposto e em termos finais, venceram uma mão em quatro com 22 o que nem é mau.

Numa análise com base nos Sklansky Bucks, o resultado sería o de que realizaram moves lucrativos e tiveram azar. A verdade é praticamente o oposto...

O segundo aspecto que merece reflexão é o facto do conceito de Sklansky Bucks ser pouco realista e ter aplicação prática muito reduzida, uma vez que assume o conhecimento das cartas exactas do adversário. Este aspecto é pertinente para avaliar a qualidade das vossas decisões. A qualidade de uma decisão mede-se em função da informação que o jogador dispõe. Voltemos ao exemplo que já utilizei anteriormente. Se no river vocês têm AAA e o adversário tem aKQjt, qualquer decisão que tomem excepto o fold terá Sklansky Bucks negativos. Em termos de TFP estarão a tomar uma má decisão qualquer investimento que façam. Mas na realidade, errado sería foldar o set de AA pois KQ sería a única mão que vos batia. Por acaso era essa mesmo que o adversário tinha naquele caso. Contudo, para foldarem aí, terão de foldar de todas as vezes que possuam um AA e na board se encontra AJTxx, AKQxx, AKTxx, AQJxx, AKJxx...

Penso que não é necessário explicar o disparate que isso seria.

Portanto, o programa não mede realmente a sorte que têm nem a qualidade das vossas decisões. Nenhuma dessas respostas pode ser retirada do programa muito embora a informação que ele disponibilize se relacione de alguma forma com essas questões. Apenas vos diz que dados os cenários em que vocês se encontraram, se as vossas decisões eram lucrativas e se acabaram por ganhar mais ou menos que o suposto.


Se as decisões são lucrativas porque tiveram sorte (estiveram vezes demais em cenários favoráveis) ou derivam da qualidade do vosso jogo, é uma resposta a que o programa não consegue responder. Se a sorte ou azar que tiveram nesses cenários concretos está em linha com a sorte ou azar que tiveram em termos globais é algo mais a que o programa, como está concebido, não consegue responder...

Num exercício de analogia, imaginem-se ao ar livre a soprar para uma bandeirola. Se sopram para a esquerda ela vai para a esquerda e se sopram para a direita, ela vai para a direita?

Sem saber se há vento, para que lado sopra o vento e com que intensidade... não dá para saber, né!


Uma última nota para a ferramenta Analysis onde poderão consultar as mãos uma a uma e analisar onde estão a perder dinheiro. Mais uma vez, muita cautela pois a tendência será a de analisar a mão numa perspectiva Results Oriented. A análise e avaliação da mão é realizada com base no conhecimento exacto das cartas do adversário...

Portanto, não se poderão limitar a consultar as mãos onde perderam Sklansky Bucks (não significa que tenham realmente jogado mal) e mãos onde cometeram erros (importantes) podem encontrar-se com Sklansky Bucks positivos e que tenderão a passar despercebidas.


Artigos relacionados:
PokerAcademy Pro
Poker Software

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Thursday, June 21, 2007

Textura em situações marginais

Há algumas semanas coloquei um post dedicado especificamente à textura da board. Este post é uma pequena nota, um complemento, sobre um determinado tipo de situação...

Podemos dividir as decisões essencialmente em dois grupos: decisões claras e decisões marginais. As decisões claras são decisões em que é claro que se trata de uma situação de EV+ ou EV-. As decisões marginais são decisões em que não é claro se estamos numa situação ou outra por esta depender de factores mal definidos (subjectivos, ambiguos, etc) ou por estar perto de um EV nulo (break even).

A textura da board toma particular importância nas decisões marginais e pequenas diferenças subtis podem-nos ajudar a tomar uma decisão ou outra.

Vou pegar num pequeno exemplo retirado de uma mão discutida recentemente aqui para ilustrar este tipo de situação. Trata-se de uma decisão de EV que parece estar muito perto de zero não sendo claro se é positivo ou negativo.

O jogador naquela situação tem um número razoável de outs e um «bom draw» mas a mão levanta diversos problemas que se dividem essencialmente em dois aspectos: nem todas as outs são seguras; existe uma certa dose de imprevisibilidade para o tipo de acção com que nos podemos vir a deparar, nomeadamente podemos ter de vir a acompanhar raises ou a desistir da mão já depois de termos construído o nosso straight (aconselho à leitura do meu post para perceber melhor o cenário e o que este envolve).

No entanto uma pequena diferença subil na board pode ajudar (ou não) a trazer a mão para EV positivo com uma margem mínima aceitável e assim ajudar-nos a tomar uma decisão. Faço notar que estou a referir-me a uma diferença subtil que só por si não seria suficiente para tomar uma determinada decisão. Neste caso em exemplo seria a terceira carta do Flop ser do mesmo suite das hole cards acrescentando ao nosso cenário um runner runner flush (como aliás a certa altura faço referência no post).

Este tipo de situação leva a que por vezes os adversários não compreendam a rectidão da decisão quando, porventura, a mão que se completa é exactamente essa. Mas isto já é tema que dá para outro post...

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Monday, June 18, 2007

Table Selection

Talvez dos aspectos gerais mais descurados pela generalidade dos jogadores. O facto é que a maior parte dos jogadores presta muito pouca ou nenhuma atenção às mesas em que entra ou ao lugar onde se senta. O impacto nos resultados finais, contudo, é tremendo...

O lucro no poker resulta da tomada de boas decisões. As boas decisões porém começam bem antes de ter as cartas na mão. Na verdade, as mais importante e decisivas para o resultado final ocorrem antes: desde a escolha da vertente correcta, da escolha adequada de stakes para uma boa gestão da banca e a terminar no table selection - a escolha dos melhores lugares nas melhores mesas.


Os critérios

De uma forma geral, quanto mais fracos os adversários, maior o lucro esperado. E quanto mais agressivos e loose, maior a expectativa de lucro. Loose, está bom de ver pois jogam mais mãos que geram prejuízo. A agressividade porque tenderão a pagar mais caro em cada erro cometido.

Digo de uma forma geral pois dependendo da qualidade e estilo do jogador, nem sempre estas premissas são válidas. A título de exemplo, um jogador muito agressivo terá interesse em defrontar jogadores mais passivos e não muito loose pois o seu jogo resultará melhor contra esse tipo de jogador. Já um jogador sólido poderá preferir jogadores relativamente loose e agressivos pois obterá um winning rate maior do que contra jogadores semi-loose/passive.

Se for possível observar as mesas durante algum tempo (o que eu faço apenas no limite superior da gama de limites que jogo) tanto melhor. No entanto essa opção é algo chata e time consuming e num nível onde estejamos bastante à vontade não é assim tão determinante pelo que nos guiaremos por alguns valores chave que servirão de critério para entrar ou não na mesa xis.

Para FL 6max tenho para mim estes valores como critério-base:

> Percentagem de jogadores no flop: a rondar os 50% ou se possível superior;

> Valor médio do pote: valor mínimo de 5BB mas de preferência de 6BB ou mais.

A percentagem de jogadores a ver o flop e o pote médio são valores genéricos que servem bastante bem para nos mostrar o que se estará a passar nessas mesas, o quão loose são os jogadores, o nível médio de agressividade, etc. Quanto mais loose são e quanto mais alto o pote médio, como que podemos dizer que mais dinheiro há para ser ganho nessa mesa.

O número de mãos jogadas por hora poderá ser importante para jogadores que joguem numa mesa ou duas, sendo do interesse desses jogadores optar por mesas mais rápidas, pelo que fica aqui uma referência. Para jogadores que joguem em bastantes mesas não creio que esse factor seja importante dado que quão mais rápido, menos mesas se conseguirá jogar em simultâneo.


A posição


Bastante importante é igualmente a escolha da posição na mesa. Na maior parte dos sites não podemos escolher o lugar onde nos sentamos pelo que o que podemos fazer nesse campo é bastante limitado: basicamente nos resta abandonar uma mesa se calharmos num lugar indesejável mesmo que a mesa no seu geral seja interessante. Se podermos escolher o local, tanto melhor.

Ao nível da posição o melhor é evitar jogadores muito agressivos depois de nós (o aspecto mais importante) e em segundo lugar, evitar as calling-stations. Depois de nós queremos jogadores o mais passivos possível e de preferência relativamente tight. Isso permitir-nos-á ter melhores leituras (maior previsibilidade) relativamente aos jogadores que actuam depois de nós e maior controlo sobre as suas decisões (são jogadores que podemos afastar mais facilmente com os nossos bets ou raises, por exemplo). Por outro lado, temos melhor controlo sobre jogadores muito agressivos se estes tenderem a actuar antes de nós quer para nos isolarmos com eles quer para controlarmos melhor as guerras de raise.

Este artigo é apenas um esboço sobre o muito que se poderia dizer sobre o Table Selection, o mais importante mesmo é transmitir a mensagem de que uma boa escolha de mesas é determinante para o winning rate. Os valores que referi servem apenas de exemplo, outros jogadores poderão ter de procurar critérios adequados ao seu jogo.

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Monday, June 11, 2007

Síndroma de Curto-Prazo

Funciona como uma cortina à frente dos olhos do jogador e não lhe deixa ver o Big Picture. É seguramente a questão de carácter psicológico que afecta o maior número de jogadores...


O resultado que realmente interessa é o resultado de longo-prazo. Ironicamente, o resultado de longo-prazo tem um peso ridiculo no estado emocional do jogador ao passo que o resultado de curto-prazo tende a ter um peso (absurdamente) elevado com grandes implicações na segurança/auto-confiança e na qualidade das decisões. Por conseguinte, na performance de longo-prazo...

Alguns comportamentos e reacções típicas:

«Esta semana ganhei xis, o meu jogo evoluiu muito e estou a ter resultados.»

O jogador acha-se um profissional. Dirige-se aos outros jogadores com grande confiança dando conselhos, criticando as suas jogadas, etc. Por norma, não considera que a sorte tenha desempenhado um papel importante no resultado obtido.

Eventualmente o mesmo jogador passado (um par de) semanas:

«Há uma semana que estou em perda, não sei o que se passa, acho que estou a jogar pior.»

O jogador perde a confiança, acha que afinal não entende o jogo ou, talvez ainda mais frequentemente, que se passa algo de estranho com a casa de pokers, com o RNG ou que simplesmente está numa fase de azar brutal.

Resumindo, quando ganhamos somos bons, quando perdemos é azar.

Para lá do efeito emocional/psicológico que estas runs ora positivas ora negativas possam ter, contudo, é bastante provável que o jogador não tenha realmente evoluído ou regredido significativamente entre umas e outras. O mais provável é que a sorte tenha tido um peso tão importante no desempenho positivo quanto o azar teve no desempenho negativo.

Mais importante, estas runs positivas/negativas não servem isoladamente para avaliar a performance/qualidade do jogador. Esta resulta do conjunto das duas e, de preferência e para maior fiabilidade, por várias séries de boas e más runs.

Não há nada mais ridículo do que alterar determinado aspecto do jogo e passado 2 ou 3 mil mãos (se não for menos) já se pretender tirar conclusões quanto a melhorias ou prejuízos daí derivados. É também bastante caricato (não direi ridículo, mas irónico) que um jogador fique bastante perturbado depois de 400 ou 1.000 ou 2.000 mãos que correram mal tendo, por hipótese, um background com dezenas ou centenas de milhares de mãos com um resultado positivo. Umas meras centenas de mãos podem abalar facilmente a confiança de um jogador ou tira-lo completamente do sério levando-o a cometer erros crassos que não cometeriam em circunstâncias normais.


Uma outra questão frequente é a de tentar saber quantas mãos são necessárias para se averiguar se o jogador é ganhador ou perdedor ou ainda para avaliar a performance do jogador. Isto é, para obter uma estimativa com alguma qualidade. Ora, não há uma resposta definitiva/geral para essa questão porque a quantidade de mãos necessárias depende de uma data de factores.

Algumas considerações sobre a variância, a consistência dos resultados e estimativa da performance do jogador:

> Os jogadores não estão todos sujeitos ao mesmo grau de variância pois determinados estilos/abordagens implicam maior variância e outros menor variância. De uma forma geral, quanto mais loose, maior a variância. Quanto mais agressivo, maior a variância.

>A variância não é a mesma em todos os níveis e contra todo o tipo de jogador, determinados adversários terão uma implicação directa na variância dos nossos próprios resultados. Tendencialmente, a variância tende a aumentar com a subida de níveis pois o jogo tende a ser mais agressivo, mais tight e com um EV mais reduzido dado o edge sobre os adversários tender a reduzir-se também.

> A consistência dos resultados resulta da combinação do winning rate com a variância. Quanto menor for o winning rate, maior o peso aparente da variância no resultado e por conseguinte estes tenderão a ser mais inconsistentes. Para o mesmo winning rate, por seu turno, quanto maior a variância maior a inconsistência. Por esta razão, conseguem-se resultados muito mais consistentes nos micro-limites do que os que se obtêm em níveis mais altos.

> Para além destas questões há ainda outro aspecto: o jogador não joga sempre da mesma forma - e quanto a isso há jogadores mais constantes/estáveis e outros mais inconstantes/instáveis - e possivelmente, também não encontrará o mesmo perfil típico nos adversários ao longo de um período considerável de tempo. Daí que a performance no início do período em análise não é necessariamente a mesma no final do período ou porque o jogo evoluiu/regrediu ou porque o jogador já não joga nos mesmos stakes ou no mesmo site ou pura e simplesmente porque os adversários se modificaram/evoluiram.

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Wednesday, May 30, 2007

Cenário: A♠ 7♠ multi-way pot

Esta resposta é retirada de um questionário de um dos dois foruns onde participo activamente...

* Game: Limit Hold'em, Full-Table Cash Game
* Position: Cut-Off
* Type of Game: Normal
* Blinds: $10/$20

3 jogadores fazem Limp, tu tens fazes também Limp, o botão também faz limp mas a small blind faz raise e todos os Limpers fazem call.

Flop -- small blind aposta 2 jogadores fazem call , 1 Fold, Tu ?

Na tua opinião qual a melhor opção e porquê?



No contexto específico desta mão, eu considero que é dos momentos em que faz menos diferença um call ou um raise e a minha decisão vai depender dos jogadores adversários e do mood do momento (em função do historial das mãos, de como se está a comportar a mesa, como são os adversários e como tendem a responder, etc). Eu respondi call porque se estiver indeciso tendo para o call dado que este implica menor variância e por este ser o cenário para este tipo de mão em que o raise tem menos interesse, na minha opinião...

Num contexto mais geral, este tipo de mão (nuts flush draw e posição) pode justificar um raise por razões diferentes:

> Se estivermos contra poucos adversários e estes forem passivos (jogadores medianos-fracos não agressivos) poderá optar-se por um raise no flop e bastante provavelmente iremos ter a possibilidade de ver o River de borla caso se tenha falhado no Turn. Esta jogada é contudo muito convencional, se falharmos o turn denunciamos fraqueza e a nossa mão fica evidente para praticamente toda a gente.

Se os jogadores forem fortes ou maníacos a jogada tenderá a funcionar pior pois iremos ter como resposta frequentemente um re-raise no flop se o jogador que fez o bet se enquadra num daqueles dois estilos e tem mão no Flop. Corremos o risco de terminar heads-up (afastar o terceiro jogador) com esta acção e um 3bet é algo que não nos interessa em heads-up com um draw ainda que muito bom.

> Se estivermos contra 4 ou 5 adversários o raise passa a ter um carácter diferente e funcionará praticamente como um value raise dado que neste contexto nós passamos a favoritos e no Flop estamos em vantagem. No Turn se falharmos o flush deixamos de estar e no river qualquer jogador (com vários adversários) tenderá a jogar defensivamente na presença de 3 espadas, pelo que o momento para um raise é o Flop.


Contra dois jogadores, um raise tenderá a cortar a acção pós-flop e possivelmente a afastar um dos jogadores (além de que frequentemente denunciará a nossa mão). É portanto das alturas em que menos vantagens apresenta o raise...

Sobre as diferentes razões para um raise vale a pena consultar um artigo recentepresente neste blog - Raise: why, where and when?

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Wednesday, May 23, 2007

Outs e Não Outs...

Com pouco tempo nos últimos dias para actualizar o Blog, deixo aqui um texto que recupero de uma discussão recente que faz alusão a um equívoco bastante frequente quando um jogador termina heads-up com outro jogador e está dependente de umas 15 outs...

A discussão surgiu a propósito de determinar a mão favorita entre um A A e um T 9 perante o flop:

2 7 8

Existem no baralho 14 cartas que servem o jogador do T9s e 31 que servem o jogador do AA (note-se que o jogador do T9s tenderá a considerar 15 outs em 47 uma vez que não conhece com exactidão as cartas do adversário). O equívoco frequente é tomar erradamente aquelas 31 cartas como se tratando de outs para o AA por oposição às 14 outs para o T9s.

Aqui fica o texto:

Assumindo que o T9s tem x outs, o T9s para vencer precisa que saia uma das suas x outs ou no turn ou no river.

Assumindo que o AA tem y cartas que não são outs para o T9s, o AA precisa que saia uma dessas y cartas no Turn e também que saia uma das y-1 sobrantes igualmente no river.

Dito de outra forma: o T9 tem um conjunto de cartas que o faz passar à frente do AA e precisa que saia uma delas numa das duas vezes (basta numa), a chamada disjunção em linguagem matemática; o AA tem um conjunto de cartas que o mantém na frente e precisa que saia uma dessas cartas das duas vezes, a chamada conjunção em linguagem matemática.

Para fazer uma analogia e para veres como as mãos não estão nas mesmas circunstancias e portanto o numero de cartas favoraveis não pode ser contabilizado e comparado directamente dessa forma imagina o seguinte:

Dois individuos estão perante um saco com 47 bolas: 15 bolas brancas e 32 bolas pretas.

Agora, um escolhe as bolas brancas e outro as pretas. As regras são as seguintes, serão tiradas duas bolas do saco: o jogador que joga pelas brancas ganha se sair pelo menos uma branca; o jogador que joga pelas pretas ganha se sair preta de ambas as vezes (isto é, não pode sair branca em nenhuma das duas vezes).

Estão bastantes mais pretas no saco do que brancas (há mais bolas que servem ao jogador das pretas do que ao jogador das brancas) e no entanto quem vai ganhar mais vezes esta disputa é o jogador das brancas.

P(pretas)=32/47*31/46~=0.459= 45.9%

P(brancas)=1-P(pretas)~=54.1%

Já usei estes números para mostrar que se um jogador tem 15 outs no Flop que podemos considerar seguras, acabará por ganhar a mão um pouco mais que 50% das vezes se tiver oportunidade de ver o Turn e o River.

Para total esclarecimento e tal como poderão conferir em qualquer software de simulação o T9s é neste caso específico a mão favorita por 52.6 versus 47.4%...

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Saturday, May 19, 2007

AA small raise

Coloco aqui um excerto de uma intervenção minha acerca de um small raise pré-flop com AA pois parece-me de interesse geral. No final acrescento uma pequena nota com as melhores cartas para um all-in versus AA...


«Não é ser result oriented (não decorre do resultado desta mão) mas pela minha experiencia em SNG's, um raise desses não é de uma forma geral uma boa opção. Um bom raise é mais vantajoso que um pequeno raise como aquele que fizeste e vai trazer-te melhores resultados no long-run.

O AA é muito bom contra todas as outras cartas, ao fazeres um bom raise o adversário tenderá a fazer call com alguma coisa de jeito mas isso não é problema pois a performance do AA contra outras cartas boas é excelente. Contra o Top Ten o AA ganha cerca de 85% das vezes. Esta parte é interessantíssima, tu vais ganhar mais vezes contra o Top Ten do que por exemplo contra 65o que era o que ele tinha neste caso, isto para mostrar que realmente não tens interesse em que ele te faça call com «lixo» pois não tens nenhum ganho com isso, na verdade estás a convidá-lo a fazer call com coisas mais fracas mas que contra AA portam-se melhor (o 65o bate o AA 19% das vezes e o Top Ten bate apenas uns 15% das vezes!). Tu preferes que ele te faça call com KK, QQ ou AK do que com 65o e coisas semelhantes...

Para além disso, ao fazeres um bom raise, se a mão por acaso não passar do flop (o adversário falhar completamente o flop) tu já ganhas o raise pré-flop ao passo que com um pequeno raise, se o adversário falha o flop e desiste cedo tu ganhas pouco. Em contrapartida, em qualquer um dos casos estás sempre sujeito (algumas vezes) ao flop lhe sair favorável e ele levar-te a stack toda.

Portanto, raises pequenos compensam menos quando o adversário falha o flop (a maior parte das vezes os jogadores «falham o flop»; se ele já foi obrigado a por uma boa maquia no pré-flop, estamos a garantir que nas vezes em que lhe vai correr mal o flop nós já ganhamos alguma coisa de jeito mesmo que a mão não passe para além do flop). Raises pequenos levam também a que tenhas calls de cartas que até batem mais vezes o teu AA (e de forma mais imprevisível) do que se o «obrigares» a fazer call com coisas melhores.»

Poderá parecer estranho que um 65o (19%), um 87s (23%) ou até um 97s (21%) se comporte melhor que um KK (18%), um QQ (19%) ou um AK (12%) contra um AA. Tal deve-se às formas que as outras cartas têm para bater o AA. Uma das diferenças é o facto do AA interferir com as outs para sequência das restantes premium além da eventualidade de preencher uma sequência superior.

Já o primeiro grupo é ligeiramente mais versátil nas possibilidades de bater o AA (por exemplo, dois pares desde que na board não surja um terceiro par comum) e nas sequências não sofrem coma interferência do AA.

Melhores cartas para um all-in versus AA: suited connectors médios, em especial os dois melhores 87s e 76s (23%).

Entre os pocket pairs, os melhores são: 88, 77, 66 (20%).

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Thursday, May 17, 2007

Raise: why, where and when?

As perguntas que um maníaco não faz...


Raise para reduzir o Field - Este raise aplica-se essencialmente no pré-flop especialmente com pares de mão médios-altos (tipo QQ/JJ/TT) dado que são mãos que têm bastante a ganhar com a redução do número de adversários a contestar a mão. No Flop faz sentido ainda quando detemos por exemplo o top-pair com bom kicker numa mão em que se encontram vários oponentes ainda em jogo e é uma forma de protecção contra chases de jogadores à procura de melhorar a mão com um segundo par, por exemplo. No Turn poderá servir ainda para tentar forçar jogadores a foldarem um inside straight, por exemplo.

Com pares como AA/KK quase que os podemos considerar value raises (ver grupo seguinte). Com pares médios-baixos poderá surgir numa posição tardia com o objectivo de steal ou de isolar-se com uma das blinds.


Value Raise - Ao contrário do raise anterior em que se pretende proteger a mão ou criar melhores condições para o tipo de mão que detemos, forçando outros jogadores a foldar mãos marginais, projectos ou mãos débeis domináveis tipo Ax, neste segundo caso o raise surge a contar com o call do oponente pela simples razão de que esse raise/call tem EV+. Ou seja, realiza-se o raise pelo valor acrescido do mesmo (imagine-se por exemplo um raise no Turn ou no River com AK e uma board tipo AK874).

Ao contrário também do raise anterior que toma a primazia nas fases iniciais da mão, este é um raise cujo contexto se insere melhor na fase final da mão.



Raise de Bluff - O raise de Bluff é um raise que tem uma única finalidade: levar o adversário a foldar. Um Bluff consiste em simular uma mão que não se tem e a única hipótese de ganho dá-se se o adversário foldar. Em FL este move tem de ser utilizado de forma bastante criteriosa e apenas se considerarmos elevada a probabilidade do adversário foldar (obviamente não se tentam contra calling stations). Por norma, justifica-se se a textura da board for favorável (existir um projecto aparente, um par na board, etc) e acreditarmos que o adversário tem apenas high-card ou uma mão débil susceptível de foldar.

Este move funciona melhor contra jogadores sólidos...


Raise de Semi-Bluff - A diferença do Semi-Bluff é que neste caso detemos um projecto de qualquer tipo e portanto existem hipóteses razoáveis de vir a ganhar a mão. O raise é util neste caso por duas razões, especialmente se temos posição: por um lado podemos terminar a mão mais cedo, deixando assim de estar dependente das outs; por outro lado, é uma forma de conseguir free-cards em projectos de cor ou sequência, isto é, evitar ter de pagar de novo no Turn caso não saia nenhuma das outs.

Ao contrário do move anterior, este não funciona tão bem contra bons jogadores dado que estes tenderão a identificar melhor os Semi-Bluffs e poderão responder com re-raise. O mesmo resultado ocorrerá com frequência contra jogadores agressivos, mesmo que pouco sólidos embora o raise surja por razões diferentes.


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Wednesday, May 16, 2007

Dois Teoremas

Sklansky Fundamental Theorem of Poker versus Morton's Theorem


Sklansky Fundamental Theorem of Poker

"Every time you play a hand differently from the way you would have played it if you could see all your opponents' cards, they gain; and every time you play your hand the same way you would have played it if you could see all their cards, they lose."


Morton's Theorem

"A player's expectation may be maximized by an opponent making a correct decision."



O Teorema Fundamental apresenta-nos o conceito subjacente à forma como se processam os ganhos e perdas no Poker. Basicamente diz-nos que ganhamos com cada erro do adversário e perdemos para ele com cada erro nosso. Este teorema aplica-se com toda a segurança a situações de heads-up, isto é, Jogador A contra Jogador B. Nessas circunstâncias o teorema estará sempre correcto.


Em situações em que existem vários jogadores envolvidos, o Teorema Fundamental nem sempre permanece totalmente válido. Este fenómeno implícito no Teorema de Morton e que contradiz parcialmente o Teorema Fundamental é igualmente conhecido por multiway collusion: dada a interferência da
s decisões dos vários jogadores entre si, as expectativas de ganhos do jogador em vantagem podem baixar com a tomada de uma ou várias decisões individuais incorrectas por parte dos seus adversários.

Note-se que ambos os teoremas dizem respeito ao conceito do EV - Expected Value. Os ganhos e perdas referidos nos teoremas referem-se aos ganhos e perdas esperados no longo-prazo para cada uma das decisões.


Convém ainda notar que sendo o Poker um jogo de informação incompleta - o jogador não tem forma de saber a mão exacta do adversário - a formulação do Teorema Fundamental é uma abstracção e que não deve ser confundida com uma análise orientada pelos resultados (results oriented).

Na prática e numa situação real de jogo, a qualidade de uma decisão é avaliada com base na informação disponível no momento em que é tomada e a cada jogador caberá o exercício de colocar o adversário num range de mãos adequado ao seu perfil e linha de acção.

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Monday, May 14, 2007

Anna Kournikova faz sentido?

AK aka Anna Kournikova, looks pretty but never wins. Soa bem mas... faz sentido?

Não!

AKs e AKo são das hole cards mais favoráveis de entre as 169 combinações de valor distinto que existem, encontrando-se seguramente entre as 5 combinações mais lucrativas e com maior taxa de sucesso. Existe também a noção de que o AK perde bastante com o alargamento do field de jogadores a disputar a mão, o que também não é verdade. De facto trata-se de uma mão pouco sensível ao alargamento do field e tende a comportar-se bem, no long-term, em ambos os casos.


Os valores que seguem correspondem à minha BD actual com 116.700 mãos e dizem naturalmente respeito ao SH FL (maioritariamente $1/2, $2/4 e $3/6).


Top Ten por taxa de sucesso

AA : 532 : 77.1%
KK : 562 : 66.7%
QQ : 524 : 65.3%
JJ : 543 : 60.8%
AKs : 318 : 56.9%
AKo : 1039 : 54.3%
TT : 591 : 53.6%
AQo : 1091 : 53.4%
AQs : 344 : 50.9%
AJs : 345 : 50.7%


Top Ten por taxa de lucro (BB/mão)

AA : 532 : 2.7
KK : 562 : 2.1
QQ : 524 : 2.0
JJ : 543 : 1.4
AKs : 318 : 0.95
TT : 591 : 0.88
AQs : 344 : 0.79
AQo : 1091 : 0.77
AKo : 1039 : 0.73
KQs : 378 : 0.71


AK?... Looks pretty and wins pretty much!

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Monday, May 7, 2007

Textura da Board

O jogador deve lutar contra a tendência de se focar na sua mão e de avaliar a board meramente no sentido em que esta lhe serve. Uma correcta a avaliação da textura da board é o grande passo para jogar não apenas com a nossa mão mas também com a (provável) mão do adversário...

A textura poderá definir-se como o conjunto de características das cartas que vão para a mesa (board) e que irão condicionar o jogo de todos os jogadores envolvidos. Mais do que saber exactamente que cartas estão na mesa, há que saber avaliar que tipo de combinação elas formam, de que forma o jogador deve abordar a mão com aquelas características e, igualmente importante, como essas mesmas características poderão influenciar a linha de acção dos restantes jogadores.


No que diz respeito a este aspecto do jogo, o Flop é o momento crítico, aquele que irá condicionar toda a mão de ora em diante. É o momento em que as decisões relativas à textura da board tendem a assumir a sua máxima importância e por essa razão o momento em que mais se irá centrar este artigo.

São 3 ou 4 - conforme o critério dado que duas delas podemos agrupar num mesmo grupo - as características a avaliar na textura do Flop:


  • A mais evidente é provavelmente o ranking das cartas, isto é, se a board apresenta cartas altas - e quais - ou cartas médias/baixas.
As cartas mais marcantes neste aspecto são os A's e os K's e que praticamente ficam num universo à parte das restantes. Um jogador minimamente sólido e que tenha falhado o flop ou, alternativamente, tenha atingido não mais do que uma mão mediana (um par médio ou até o bottom pair, por exemplo) estará muito susceptível a abdicar da mão na presença de um A ou um K no Flop. Se a board apresentar um Q ou inferior o jogador estará (progressivamente) mais disponível para contestar a mão. Isto faz sentido, é claro, dados os critérios genéricos de pré-selecção. A probabilidade de algum jogador deter o top-pair é obviamente mais elevada e além de ser mais elevada, tenderá a aguentar-se melhor até ao final da mão. Um top pair 77 e um top pair KK são coisas, obviamente, completamente distintas.

Por oposição, uma board com cartas médias e baixas tem uma probabilidade mais reduzida de algum jogador ter emparelhado no Flop ao que se soma o facto desse par ter bastante menos firmeza: um jogador com um par médio ou baixo está muito mais sujeito a ser batido no pós-flop e a generalidade dos jogadores tenderá a considerar que tem como outs as overcards que eventualmente tem na mão. Por hipótese o flop vem 832 rainbow e alguém com QT vai considerar que tem 6 outs, tendendo em grande parte dos casos a lutar pela mão. O mesmo jogador iria provavelmente foldar num flop tipo A32...


  • Outra característica chave é verificar se a board vem emparelhada e se sim, qual o ranking do par.
Este aspecto tem duas vertentes que o tornam importante: o facto da board vir emparelhada e especialmente contra poucos adversários aumenta consideravelmente a probabilidade destes terem falhado o flop; por outro lado, os adversários estarão bastante menos susceptíveis a contestar uma mão que vem com um par na board dado que as cartas que procuram poderão de nada lhes valer caso algum outro jogador detenha já o trio.
Qual o par em questão é igualmente determinante. Mais uma vez, uma board emparelhada do tipo KKT e uma outra tipo 335 são boards substancialmente diferentes. Na verdade, se por hipotese estivermos envolvido numa mão contra dois ou três jogadores tight ou razoavelmente tight podemos assumir como dado adquirido que numa board 335 ninguém acertou nada com a board ao passo que numa outra tipo KKT praticamente podemos dar por adquirido que entre os 3 alguém tem algo, ou pelo menos, um projecto bem forte. Entre três jogadores tight ou relativamente tight é difícil imaginar que ninguém tenha K, ninguém tenha T e não tendo nenhuma daquelas cartas também ninguém tenha QJ.

No caso de pares médios e baixos na board o perigo poderá vir essencialmente de jogadores loose e superloose ou das blinds se estas se envolveram na jogada pelo que neste tipo de board são os jogadores a que deveremos prestar maior atenção e crédito.

Outra peculiaridade das paired boards (e sempre tendo em conta o já o referido) são os casos em que o jogador detém um par de mão e ainda mais especialmente quando o jogador foi o agressor do pré-flop. São mãos que tenderão a ser bastante menos contestadas e que com elevada frequência podem ser arrumadas prontamente no Flop. Imagine-se o caso do jogador deter 99 e a board vir 885.

Estas são mãos que por norma merecem um raise no Flop caso algum jogador sem posição abra com bet, mesmo que existam terceiros jogadores por falar. Este raise tenderá a afastar jogadores com draws frágeis ou overcards. Por outro lado, caso alguém faça um cold call podemos coloca-lo num possível slowplay (alternativas são draws fortes ou outros pocketpairs, aqui excepção feita às super calling stations).

Quanto ao heads-up, não é muito provável que o adversário detenha o trio (num heads-up é bem mais plausível que este opte por um slowplay) sendo bem mais credível que esteja simplesmente a tentar roubar o pote ou então detenha o segundo par feito com a board. Pode ainda tratar-se de um semi-bluff com high cards. O raise no Flop continua a ser uma boa opção bem como a insistência no Turn, onde perante tal agressividade o adversário estará bem susceptível a desistir.


  • As restantes podem agrupar-se genericamente em boards com fortes possibilidades de projectos e consiste em avaliar os naipes constantes na board e a conectividade das cartas ali presentes.
As boards favoráveis a projectos de cor ou sequência tenderão obviamente a ser bastante mais contestadas e aqui a palavra chave para um jogador com mão feita é agressividade. Em FL praticamente não há forma de proteger a nossa mão perante os projectos nem essa é sequer a abordagem correcta nesta vertente do jogo, já que na generalidade dos casos nada fará o adversário desistir do projecto. E neste contexto, a atitude correcta é fazê-lo pagar sempre e pagar tanto quanto possível para que este coloque sempre (o máximo de) dinheiro no pote, quer nas vezes em que vai completar o projecto, quer no numero maior de vezes em que vai falhar.

Os projectos de cor são bastante evidentes ao passo que alguns projectos de sequência são bastante subtis tendendo a apanhar desprevenidos os jogadores no final da mão quando por vezes contavam ter esta ganha enquanto que as boards com projectos de cor tendem levar os jogadores a jogar mais defensivamente. Jogadores loose merecem especial cuidado em boards tipo QJ9 7 6. Existe aqui um leque considerável de mãos que completam sequência desde KT, passando por T8 e a terminar em 85.

Ainda mais subtil é a probabilidade mais elevada de alguém conseguir dois pares neste tipo de board - e mais uma vez com especial atenção para os jogadores loose - dado que os jogadores tendem a jogar mais as connected cards em geral (jogadores mais loose inclusivamente com gaps de uma ou duas cartas). Nesta board um AQ é uma mão que não merece ser jogada com grande agressividade na fase final dado o enorme leque de mãos plausíveis entre sequências como as já citadas a dois pares realizados com QJ, 76 ou até mesmo embora já menos provável com J9 e 97.

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Sunday, May 6, 2007

Considerações sobre SNG's

Longe de ser a minha especialidade, tenho realizado algumas incursões nos SNG's com especial preferência pelos SNG's de 18 jogadores da Full Tilt. Aqui ficam algumas considerações que poderão servir de alerta a outros jogadores para alguns aspectos pertinentes...

  • Um dos aspectos mais interessantes dos SNG's é o facto de apresentarem (em comparação com os MTT's) uma variância bem inferior. Tal deve-se à forma como a prize pool é distribuída (tende a ser bastante exponencial nos MTT's e mais linear nos SNG's) e pelo número/percentagem de jogadores a que o prémio é atribuído (mais largo nos SNG's e mais apertado nos MTT's). Pessoalmente, a nível de torneios, praticamente só jogo SNG's.

  • O Fee tende a passar despercebido mas é um parametro de extrema importância. Para SNG's de buy-in médio na casa dos $5 a $20 um Fee de 10% é o mais usual e podemos considerá-lo um valor médio e perfeitamente aceitável. Fees acima deste valor são uma extravagância e prejudica os jogadores, Fees abaixo deste valor são Fees bastante interessantes. Quanto melhor o jogador, mais prejudicado é este por Fees elevados dado que é este jogador que tenderá a levar a maior fatia da prize pool (fees maiores significam que menos é o dinheiro que entra que vai para a prize pool).

  • Outro aspecto importante é a duração dos SNG's (refira-se, mais uma grande vantagem dos SNG's face aos MTT's). Convém prestar alguma atenção a esse factor que irá condicionar o retorno por hora.

  • Por fim destaco a forma como a prize pool é distribuida. Este aspecto deve ser conjugado com o tipo de performance que o jogador obtém. Reproduzo uma discussão recente em que tomei parte que esclarece bem quanto a este aspecto em particular:

Citação:
I've never cared for the 18-man SNGs in that you have to battle an extra 9 players for 1 more payoff spot. Sure it pays more, but your odds (from a math standpoint) are much worse.

Isso não é assim tão relevante. De resto, não é claro o que ele quer dizer com isto. «From a math standpoint», eles não são nem melhores nem piores... são iguais. O payout em ambos é de 0.909 por cada dolar (90.9%).

Os SNG's de 18 jogadores duram mais ou menos o tempo de outros SNG's com menos jogadores (12 e 10 por exemplo). O range de jogadores em prémios é mais apertado, isso tem uma implicação na variância, nada mais (o prémio não é mais ou menos apetecível, os retornos é que vão sofrer maior variância se a pool for distribuída por uma percentagem menor de jogadores). Neste caso temos um prize pool significativamente maior para um torneio que dura sensivelmente o mesmo de outros torneios com menos jogadores (isto é um pouco variável mas já comparei e a diferença não é grande). Seguramente não dura o dobro do de 9!...

A redução da percentagem de jogadores tem outra implicação: ficas mais dependente da tua performance na «zona da bubble». Pessoalmente dou-me bem nessa fase mas menos bem depois na do heads-up onde a minha performance é ligeiramente mais fraca. Por isso, privilegio torneios que não favoreçam o primeiro lugar.


Já agora deixo aqui as minhas stats:

Stats de Torneios na Full Tilt


Em cerca de 430 SNG's destes fiquei em
1º 22 vezes
2º 32 vezes
3º 38 vezes
4º 30 vezes

Fico portanto ITM umas 30% das vezes numa prize pool de 22% dos jogadores o que é bom. Mas se jogasse torneios que favorecem-se mais os 1º isso prejudicava-me o resultado final. Estes resultados ficam muito aquém dos meus resultados em cash games fixed limit que é a minha especialidade. Mas já são bem bons para um amador de torneios (melhores que 95% dos jogadores). E no que diz respeito aos de 18, tenho preferência por eles por razões bem concretas que ali atrás apresentei. Seguem os exemplos:

A prize pool do 9 de $10+1 é de $90 distribuidos desta forma:
1º $45
2º $27 ( -18 )
3º $18 ( -9 )

A prize pool do 18 de $5+0.5 é de $90 distribuidos desta forma:
1º $36
2º $27 ( -9 )
3º $18 ( -9 )
4º $9 ( -9 )

Como se pode ver é uma distribuição linear o que é óptimo para quem não tiver um grande edge na pontinha final do SNG (usei estes para a prize pool coincidir e tornar mais evidente a diferença).

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Monday, April 30, 2007

As 3 formas de perder uma mão

Não há tema mais banal, frequente e enfadonho no Poker do que o tema das Bad Beats. E verdade seja dita, por questões profundas da psicologia do ser humano e do jogador de poker em particular será sempre assim...

Se ganharmos uma mão, somos atingidos por um momento de felicidade. Uns segundos depois porém já nos esquecemos da mão a menos que esta esteja ligada a um acontecimento muito particular como por exemplo ganhar um grande pote com uma mão soberba - imagine-se um Four of a Kind ou um Straight Flush - ou até um torneio. Se perdemos uma mão, mesmo depois de termos ganho uma série delas, tenderemos a ficar aborrecidíssimos ou mesmo tremendamente perturbados. Algo com que o jogador de poker tem de lidar constantemente e que na sua evolução como jogador terá de aprender a superar por forma a evitar efeitos colaterais como o degenerar do estilo de jogo. No limite, leva à perda da racionalidade nas decisões e consequentemente ao Tilt...

Assim que penso neste tema, surgem-me à memória 3 formas básicas de perder uma mão:
  • Partimos em desvantagem e perdemos;
  • Partimos em vantagem e perdemos, tendo o nosso adversário - do seu ponto de vista da mão - tomado uma decisão correcta ou, pelo menos, aceitável;
  • Partimos em vantagem e perdemos, tendo o nosso adversário tomado uma decisão que - do seu ponto de vista da mão - é injustificável e totalmente incorrecta ao que chamaremos, com toda a propriedade, de decisões estúpidas.

A minha sugestão, de cada vez que perderem uma mão, é de avaliarem qual dos 3 casos se verifica e a cada um deles aplicar este raciocínio:

  • Primeiro caso nada há a lamentar, a vantagem era do jogador adversário e este ganhou a mão. A única coisa a fazer é avaliar se - antes de conhecermos o desfecho! - tomamos uma decisão correcta ou incorrecta. Apesar de virmos a descobrir posteriormente que estavamos em desvantagem naquele caso concreto, tal não significa necessariamente que a decisão fosse incorrecta (devemos assumir um range credível e racional para a mão do adversário sobre o qual temos EV+ e no entanto vir a descobrir posteriormente que para a mão do adversário naquele caso concreto o EV era negativo). Se foi uma decisão incorrecta, por seu turno, tentemos corrigi-lo de futuro.
  • Segundo caso, é Poker. A jogada do adversário foi correcta ou justificável. O facto de partirmos em vantagem não significa que ganharemos todas as mãos. Acabaremos por perder algumas delas o que de resto é perfeitamente aceitável e não é problemático. Neste caso contudo é importante saber analisar a mão da perspectiva do adversário e não colocar precipitadamente a mão no grupo 3, fazendo desta forma aumentar artificialmente o número de mãos desse caso dando-nos uma perspectiva errada do que realmente está a acontecer (o software é rigged, premeia jogadores estúpidos, enfim, as alegações habituais mas que decorrem frequente e essencialmente desta análise não objectiva ao avaliar a decisão do adversário). Inclusivamente poderá verificar-se que o próprio jogador que se lamenta tería, no lugar do adversário e tendo e vendo o que ele via, decidido de forma semelhante.
  • Terceiro caso. É o mais perturbador de todos embora, como dito anteriormente, não aconteça tantas vezes quantas as tendemos a contar (incluímos precipitadamente algumas dos casos anteriores - principalmente do grupo 2 - aqui no meio da nossa frustração e perturbação emocional). No entanto, esta ocorrência não é uma má notícia. É antes uma boa notícia. A qualidade só trará lucro e o melhor jogador só sairá ganhador - por outro factor que não a sorte - enquanto existir este terceiro caso. Só é possível lucrar no Poker enquanto existirem jogadores a tomar decisões mais estúpidas do que as nossas. Algumas destas decisões sairão ganhadoras. Até o hipotético jogador que vai all-in pré-flop com 72off vai ganhar algumas vezes e se terminar heads-up com outro jogador (com uma selecção razoável) vai ganhar umas 30 em cada 100 tentativas. Note-se bem, não são tão poucas quanto isto e na verdade, intuitivamente os jogadores tendem a falhar grosseiramente nesta estimativa tendendo a considerar edges substancialmente maiores que os reais. Mas falhará as 70 e o seu balanço final será francamente negativo e este é o aspecto que realmente interessa. Só há que dar graças por existirem jogadores a tomar decisões deste calibre. Mesmo quando ganham.

Não obstante este desiquilíbrio flagrante, as 70 ganhadoras acabarão por passar praticamente despercebidas. Uma ou outra com Showdown poderá saltar à vista e permitirá catalogar o jogador. Tanto que um bom número de vezes nem chegamos a conhecer as cartas do adversário - devido às mucked hands ou folds no river - pelo que tendemos a não ter a noção exacta de quão caro saiem a esses jogadores as decisões estúpidas.

Já as 30 perdedoras serão integralmente notadas, provocando enorme frustração e revolta associada à perda que daí derivou. E a essas ainda juntaremos algumas do grupo 2 e uma ou outra do grupo 1. Esta assimetria de informação somada à falta de objectividade será responsável por uma concepção completamente errada do que realmente está a acontecer em termos estatísticos, bem como o que daí tenderá a inferir-se...

O Poker não premeia o jogador estúpido. Nunca. Mesmo na ocasião em que este ganha em virtude de uma decisão estúpida - e porque ele é estúpido - tal não consiste num prémio mas antes num incentivo para que ele, jogador estúpido, continue a decidir estupidamente em busca destes ganhos esporádicos, matemática e estatisticamente insuficientes.


O pior que o jogador superior pode fazer é deixar-se perturbar, prejudicando assim o seu jogo em virtude do seu estado emocional.

Recordo ainda que no Poker não se pretende ganhar mais mãos ou mesmo todas as mãos em que estamos em vantagem. Os bons jogadores ganham menos mãos que os maus jogadores. Estes últimos ganham mais mãos e logo, ganham com relativamente elevada frequência. Contudo perdem dinheiro, porque entre as mãos que ganham encontram-se muitas pelas quais não compensa lutar.

Na mesma linha, os bons jogadores tendem a levar Bad Beats, os maus jogadores tendem a pregar Bad Beats. Analisando em retrospectiva, quando um bom jogador é batido ele tende a estar em vantagem numa fase anterior nessa mão ao passo que o jogador inferior tende a partir frequentemente em vantagem seguindo uma lógica bastante elementar (supor que o bom jogador parte em desvantagem pregando Bad Beats significa que este fez então na fase inicial uma má avaliação logo não pode ser um bom jogador).


Entender estes mecanismos é essencial para superar os aspectos de carácter psicológico que envolvem o jogo. Coisa nada fácil. Daqui a alguns minutos esta leitura será obliterada por essa irritante Bad Beat que vão levar...

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Thursday, April 26, 2007

EV é tudo no Poker!

EV é tudo o que importa no poker. Tudo o que se discute numa mão se resume no final ao EV. Odds, reads, etc... tudo somado só tem uma finalidade: apurar/estimar e optimizar o EV de cada decisão. Nada mais interessa no Poker. Ignorar o EV é puro gambling. É o mesmo que jogar na roleta, basicamente.


EV é tudo o que interessa no Poker, nada mais interessa (quer o jogador tenha noção disso ou não, quando ele está à procura de tomar a melhor decisão, o que ele está a fazer - bem ou mal - é à procura da decisão com melhor EV).

As decisões são boas ou más no Poker em função da expectativa que elas têm a longo-prazo em termos de retorno financeiro. O Poker é um jogo a dinheiro e a finalidade é ganhar dinheiro (não é ganhar mãos, ganhar potes, ganhar determinados potes, conseguir determinadas mãos vistosas, etc... o objectivo do jogo - o único racional, os outros são de carácter emocional - é ganhar dinheiro). Logo, uma boa decisão é uma decisão com EV+ e a melhor decisão é a decisão com melhor EV.

Obviamente nem todos os jogadores fazem as contas e tentam apurar o EV de uma forma grosseira baseando-se em decisões intuitivas (intuitiva no sentido de lhe parecer o melhor a fazer) ou qualitativas (não númericas) mas que podem resultar como aproximação (exemplo: um jogador tem high card com A ou um par intermédio e um bluffer faz um bet moderado face ao tamanho do pote, o jogador pensa «este jogador é um bluffer portanto é uma boa decisão eu fazer call»). O jogador não quantifica, até é capaz de não ter ideia da percentagem de vezes que o adversário faz bluff mas qualitativamente acha que é uma boa decisão fazer call. Mesmo que o jogador não tenha noção disso e não o tenha tentado quantificar, o que ele está à procura é de tomar uma decisão que lhe dê dinheiro a prazo, isto é, que tenha EV+.

Não é imperativo quantifica-lo, matematiza-lo (é possível jogar um bom poker sem fazer muitas contas e há um ou outro jogador famoso por isso). Mas atenção: estes jogadores são jogadores que aprenderam intuitivamente (empiricamente) a tomar decisões de EV+, mesmo que não coloquem a coisa nesses termos.

Claro que à parte disso há os gamblers que não ligam patavina ao EV e que frequentemente vão tomar decisões de EV francamente negativo e obviamente tomam portanto péssimas decisões. É estes jogadores que devemos procurar nas mesas...

Não ligar ao EV no poker tem EV negativo (torna o jogador perdedor) a menos que o jogador esteja a decidir bem em termos de EV sem saber disso.


Se um jogador chegar aqui agora e disser: eu nunca liguei a isso do EV e no entanto estou a ganhar consistentemente no Poker, jogo há 4 anos e já joguei 2 milhões de mãos.

A única resposta possível é: sem saberes (teres a noção exacta disso), estás a tomar decisões de EV positivo. Para uma amostra dessas não há outra explicação para um resultado positivo (claro que isto é uma coisa remotamente possível dado que 99% dos jogadores ganhadores consistentes está mais do que familiarizado com o conceito do EV).

Fora isto há a sorte e jogar com base na sorte é puro gambling. E que pode resultar no curto-prazo, a longo-prazo está condenado ao fracasso.

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