Funciona como uma cortina à frente dos olhos do jogador e não lhe deixa ver o Big Picture. É seguramente a questão de carácter psicológico que afecta o maior número de jogadores...O resultado que realmente interessa é o resultado de longo-prazo. Ironicamente, o resultado de longo-prazo tem um peso ridiculo no estado emocional do jogador ao passo que o resultado de curto-prazo tende a ter um peso (absurdamente) elevado com grandes implicações na segurança/auto-confiança e na qualidade das decisões. Por conseguinte, na performance de longo-prazo...
Alguns comportamentos e reacções típicas:
«Esta semana ganhei xis, o meu jogo evoluiu muito e estou a ter resultados.»
O jogador acha-se um profissional. Dirige-se aos outros jogadores com grande confiança dando conselhos, criticando as suas jogadas, etc. Por norma, não considera que a sorte tenha desempenhado um papel importante no resultado obtido.
Eventualmente o mesmo jogador passado (um par de) semanas:
«Há uma semana que estou em perda, não sei o que se passa, acho que estou a jogar pior.»
O jogador perde a confiança, acha que afinal não entende o jogo ou, talvez ainda mais frequentemente, que se passa algo de estranho com a casa de pokers, com o RNG ou que simplesmente está numa fase de azar brutal.
Resumindo, quando ganhamos somos bons, quando perdemos é azar.Para lá do efeito emocional/psicológico que estas runs ora positivas ora negativas possam ter, contudo, é bastante provável que o jogador não tenha realmente evoluído ou regredido significativamente entre umas e outras. O mais provável é que a sorte tenha tido um peso tão importante no desempenho positivo quanto o azar teve no desempenho negativo.
Mais importante, estas runs positivas/negativas não servem isoladamente para avaliar a performance/qualidade do jogador. Esta resulta do conjunto das duas e, de preferência e para maior fiabilidade, por várias séries de boas e más runs.
Não há nada mais ridículo do que alterar determinado aspecto do jogo e passado 2 ou 3 mil mãos (se não for menos) já se pretender tirar conclusões quanto a melhorias ou prejuízos daí derivados. É também bastante caricato (não direi ridículo, mas irónico) que um jogador fique bastante perturbado depois de 400 ou 1.000 ou 2.000 mãos que correram mal tendo, por hipótese, um background com dezenas ou centenas de milhares de mãos com um resultado positivo. Umas meras centenas de mãos podem abalar facilmente a confiança de um jogador ou tira-lo completamente do sério levando-o a cometer erros crassos que não cometeriam em circunstâncias normais.
Uma outra questão frequente é a de tentar saber quantas mãos são necessárias para se averiguar se o jogador é ganhador ou perdedor ou ainda para avaliar a performance do jogador. Isto é, para obter uma estimativa com alguma qualidade. Ora, não há uma resposta definitiva/geral para essa questão porque a quantidade de mãos necessárias depende de uma data de factores.
Algumas considerações sobre a variância, a consistência dos resultados e estimativa da performance do jogador:
> Os jogadores não estão todos sujeitos ao mesmo grau de variância pois determinados estilos/abordagens implicam maior variância e outros menor variância. De uma forma geral, quanto mais loose, maior a variância. Quanto mais agressivo, maior a variância.
>A variância não é a mesma em todos os níveis e contra todo o tipo de jogador, determinados adversários terão uma implicação directa na variância dos nossos próprios resultados. Tendencialmente, a variância tende a aumentar com a subida de níveis pois o jogo tende a ser mais agressivo, mais tight e com um EV mais reduzido dado o edge sobre os adversários tender a reduzir-se também.
> A consistência dos resultados resulta da combinação do winning rate com a variância. Quanto menor for o winning rate, maior o peso aparente da variância no resultado e por conseguinte estes tenderão a ser mais inconsistentes. Para o mesmo winning rate, por seu turno, quanto maior a variância maior a inconsistência. Por esta razão, conseguem-se resultados muito mais consistentes nos micro-limites do que os que se obtêm em níveis mais altos.
> Para além destas questões há ainda outro aspecto: o jogador não joga sempre da mesma forma - e quanto a isso há jogadores mais constantes/estáveis e outros mais inconstantes/instáveis - e possivelmente, também não encontrará o mesmo perfil típico nos adversários ao longo de um período considerável de tempo. Daí que a performance no início do período em análise não é necessariamente a mesma no final do período ou porque o jogo evoluiu/regrediu ou porque o jogador já não joga nos mesmos stakes ou no mesmo site ou pura e simplesmente porque os adversários se modificaram/evoluiram.
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