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Saturday, April 28, 2007

Estigma do Jogo de Azar

Estou certo que qualquer jogador dedicado já sentiu esse estigma na pele e que certamente já lhe terá criado, uma ou outra vez, de uma ou de outra forma, algum desconforto ou inconveniente.


Infelizmente, para a virtual totalidade daqueles que não estão suficientemente familiarizados com o Jogo, o Poker é visto como um Jogo de Azar. Tal cria algum constrangimento em referir o assunto perante alguém que intuimos não estar familiarizado com esta realidade pois qualquer referência ao Jogo terá - quase obrigatoriamente - de ser acompanhada por uma sucinta explicação de que não se trata de um Jogo de Azar (um exercício um pouco infrutífero contudo pois estou certo que a maioria tenderá e entender essa explicação como a desculpa de um jogador/viciado).

A reacção pode variar conforme o grau de confiança ou perfil do ouvinte desde comentários como «estás metido nisso», «isso vai ser a tua desgraça», «vais perder tudo» e outras frases semelhantes ao mero silêncio mas com semelhantes considerações interiores.

Certamente tais considerações são movidas pelas melhores intenções mas lamento informar essas pessoas que não sabem do que falam. O Poker não é um Jogo de Azar, é um Jogo de Skills.

A maior parte dos jogos são compostos por uma componente de Sorte e uma componente de Skill em pesos variáveis conforme as regras e mecânica do Jogo. Grande parte dos jogos não são em absoluto nem uma coisa nem outra ficando algures no meio termo. Por norma e seguindo uma lógica bastante elementar e intuitiva, o jogo é denominado de Skill ou de Sorte (azar) conforme o aspecto que tende a tomar a preponderância. E segundo tal lógica, para um jogador persistente, o Poker só pode ser classificado como um jogo de skill dado que a prazo este prevalece sobre o factor sorte. Na verdade, no limite (no muito longo-prazo) o factor sorte é na esmagadora maioria dos casos (abre-se aqui uma excepção para jogadores medianos que situam os seus resultados perto de even) completamente irrelevante. O resultado final deriva da qualidade das decisões tomadas.

Apenas no curto-prazo (e tanto mais quanto mais curto for o prazo) a sorte desempenha um papel importante nos resultados. Convém aqui esclarecer que o prazo não deve ser entendido no sentido temporal mas sim no sentido de «número de eventos», ou seja, no número de vezes que o jogo foi praticado (número de mãos ou torneios jogados, por exemplo).

No longo-prazo não há jogadores com sorte ou azar, todos acabarão - seguindo a Lei dos Grandes Números - por obter semelhantes oportunidades aos demais pelo que as diferenças nos respectivos resultados não se devem a melhores oportunidades (sorte) ou a piores oportunidades (azar) mas sim à qualidade das decisões tomadas.

Nesse sentido o Poker é um jogo de sorte: há os que têm a sorte de saber jogar e os que têm o azar de não saber!

Há contudo jogadores que encaram o jogo como um jogo de azar numa atitude de puro gambler (jogador que gosta de desafiar a sorte, o mesmo que normalmente encontramos nos jogos de azar). Porém, as características intrínsecas de um Jogo não se definem conforme a atitude de um determinado grupo de jogadores/praticantes. Dá-se inclusivamente - e a título de exemplo - um paralelismo bem forte com os mercados financeiros onde igualmente existe uma parcela de investidores que encaram o investimento como se de um jogo de casino se tratasse. Não é por essa razão contudo que o investimento nos mercados financeiros é em si um Jogo de Azar.

Outros há que não só não se identificam com os jogos de azar como ainda a razão porque jogam Poker é precisamente a mesma porque não jogam jogos de azar (na realidade um bom jogador de Poker desempenha o papel do Casino num jogo de azar, é ele que tem o edge sobre o jogador mais fraco e no longo-prazo o jogador inferior está condenado a perder da mesma forma que qualquer jogador a desafiar o Casino na roleta está condenado a perder).

Tratando-se de um jogo de soma negativa (de soma nula se praticado em casa) obviamente os ganhos de uns jogadores advêm das perdas de outros. Como resultado, a maior parte dos jogadores tenderá a perder a prazo e este é um aspecto incontornável do jogo. O importante é perceber que este fluxo de capital resulta essencialmente da qualidade relativa dos jogadores...

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4 Comments:

At April 29, 2007 at 1:53 AM , Blogger Nuno Gabriel said...

FANTÁSTICO!

Continua...

 
At April 29, 2007 at 2:13 PM , Anonymous Anonymous said...

Isso é simples de resolver.
Basta falar nos ganhos e calam-se logo. Embora não fiquem muito convencidos, who cares???

 
At April 29, 2007 at 4:07 PM , Blogger MarcoAntonio said...

Normalmente não falo de ganhos a não ser que tenha bastante confiança com a pessoa em causa mas, frequentemente, a resposta é «e quanto perdeste?».

Isto é, normalmente as pessoas não entendem que é o ganho absoluto.

E na verdade, alguns jogadores de torneios tende a referir os ganhos (prémios) e não os lucros. Mas para um jogador de ring (cash games) não faz sentido (nem sabemos quanto é, só sabemos se ganhamos ou perdemos em valor absoluto).

Mas lá está, é mais uma coisa que tem de ser explicada...

 
At June 21, 2008 at 3:41 PM , Anonymous Anonymous said...

Ta aí o texto que eu queria pra mostrar pra umas pessoas.
Bem esclarecedor para aqueles que não conhecem o jogo.

 

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